Uma análise da capacidade do estádio, camarotes e estacionamentos. Neste artigo, analisarei tecnicamente o espetacular projeto da Arena do Galo, antigo sonho do clube. Depois de um longo silêncio, após encerrar há 2 anos, o ciclo do Fórum de Gestão de Estádios em São Paulo, com objetivo de levar inovações ao setor e me dedicar exclusivamente a projetos internos da Arenaplan, abrirei estes “parênteses” para analisar este projeto: O Estádio do Galo. Os artigo analisará alguns aspectos técnicos deste grande projeto. Este primeiro artigo analisará a capacidade do estádio, o número de camarotes e vagas de estacionamento.
A História Deste Projeto
Este projeto tomou corpo, com apoio de grandes parceiros e seguindo o projeto do arquiteto Bernardo Farkasvölgyi e fruto de um dos pilares da virada atleticana: Ricardo Guimarães que segundo a história levou Menin a Portugual para conhecer os estádios lusitanos. O resto é história. Este grande executivo e ex-presidente do Atlético-MG, já havia iniciado as bases do centro de treinamento do clube, a Cidade do Galo e agora garantiu 60% da verba da venda das cativas que completará o fundo necessário para completar a verba prevista para financiar o projeto da Arena MRV. Há cerca de três anos, a pedidos de um conselheiro estive em Belo Horizonte para apresentar a conclusão de alguns números e fluxo de caixa de um estudo de viabilidade que havia trabalhado de um estádio de porte similar à Arena MRV. Tive contato com o projeto da Arena MRV há cerca de 2 anos, quando um membro deste projeto encontrou comigo no Aeroporto de Congonhas e me mostrou um propecto do projeto. Levei-o a conhecer o Allianz Parque e em troca ele me expôs superficialmente alguns detalhes do projeto. Já na época alguns detalhes me chamaram a atenção para alguns erros. Mas só tive acesso as informações divulgadas publicamente. E será em cima delas que analisarei alguns pontos positivos do projeto e alguns pontos que talvez mereçam maior atenção dos projetistas.
No Brasil, no brasileirão, médias acima de 40 mil pessoas por jogo, após 1990, só foram atingidas apenas pelo Atlético-MG e Flamengo, mas não ultrapassaram 42 mil.
A Capacidade do Estádio e a Média de Público
Talvez o apaixonado torcedor atleticano quisesse um estádio maior, do tamanho da sua paixão. Porém em quase nenhum lugar do mundo, com exceção dos EUA, se constroem arenas com mais de 60 ou 70 mil pessoas. Nos EUA é comum construírem-se arenas com tempo de vida útil de 30 anos, coloca-la abaixo e reconstruí-la com técnicas modernas aliadas as melhores práticas de gestão atuais e novos investidores. O futebol americano movimenta números estratosféricos em questões de receitas. Isso torna comum que grandes clubes tenham médias de 90 mil pessoas por jogo. No Brasil, no brasileirão, médias acima de 40 mil pessoas por jogo, após 1990, só foram atingidas apenas pelo Atlético-MG e Flamengo, mas não ultrapassaram 42 mil. Até 2016, o Atlético-MG era o segundo maior recordista de média de público do brasileirão (9 edições) ao lado do Corinthians, ambos atrás do Flamengo com 12, pesquisa que iniciou em 1972. Em 1971, ano da conquista do campeonato pelo Galo estes dados não foram levantados. Mesmo na série B o clube obteve a média de 42 mil. A queda nas médias de público a partir de 1991 deve-se às competições com outros entretenimentos. No gráfico acima notamos que a media de público do Galo caiu a partir 1991. Fato registrado em todos os clubes brasileiros. Analisando o tamanho do projeto para 41 mil pessoas o Atlético acertou na decisão. Com isso economiza-se com custos de limpeza, diminui-se o gasto de luz, água, equipes de segurança maximizando as receitas por jogo ou eventos. Especialistas na Europa e EUA ainda diriam que o tamanho poderia ser ainda menor. A questão aqui é a rentabilidade e a maximização das receitas. A maioria dos estádios no país, construídos para a copa, trabalham no prejuízo. Construir um estádio gigante para baixa média de público no Brasil é uma loucura sem tamanho. O melhor é pensar em estádios menores que possam depois crescer sem grandes reformas no futuro. No Brasil pensa-se muito em construção e esquece-se da gestão para maximar a lucratividade, o motivo principal do projeto. O grande objetivo da boa gestão é ter 90 a 100% de ocupação do estádio em todos os jogos. Uma gestão com apoio do departamento de marketing, mais parceiros para divulgação dos jogos e de revenda de ingressos podem ajudar o clube a manter seu estádio cheio, como é feito nos estádios americanos. Mais parceiros na revenda de ingressos ampliam esta média. Aqui no Brasil a revenda de ingressos fica sempre com uma só empresa que em geral, além de não facilitar o processo de venda, não investe adequadamente na divulgação dos jogos.
O faturamento anual esperado divulgado pelo Atlético-MG com a nova arena aparentemente está baixo (R$56M/ano). Um destes motivos pode ser o numero baixo de camarotes.
Número de Camarotes
O projeto do Galo trouxe números em sua planta para 36 camarotes. Em torno de 900 vagas, ou seja, uma média de 25 lugares cada. Dependendo do projeto em estudos de viabilidade modernos a receita gerada pelos camarotes pode representar até 30% da receita fora a bilheteria. Uma verdadeira mina de dinheiro. A primeira impressão é que os camarotes sejam vendidos apenas para as empresas. O segredo na eficiência das vendas neste setor também está em sua popularização para pessoas com maior poder aquisitivo. E para isso recomenda-se realizar promoções regulares com descontos ou sorteio dos camarotes por jogos em grupos de sócio torcedores para que estes tenham acesso a este tipo de recurso. Para isso novamente vem o conceito da gestão. O Allianz Parque é um dos estádios que melhor concebeu sua planta no sentido de favorecer a realização de eventos, infraestrutura e maximização de receitas. Nele temos dois andares de camarotes ocupando todo o andar. Segundo Amir Somoggi, o Allianz Parque é o líder em rentabilidade nos estádios, seguindo pelo Internacional, este último perde boa parte desta renda para os investidores que o reformaram. A Renda per capita e o tamanho da cidade permite isso. Parte deste alto nível faturamento deve-se a rentabilidade dos seus camarotes.
Estádio | Capacidade | Número de Camarotes |
Total de |
Lugares Em Cada (Média) |
Allianz Parque | 43.713 |
183 |
2768 |
12 a 39 |
Grêmio | 55.662 |
120 |
3600 |
16 a 40 |
Maracanã | 78.838 |
110 |
2420 |
22 |
Arena Pernambuco | 44.300 |
102 |
1530 |
8 a 18 |
Minas Arena | 61.846 |
98 |
2000 |
18 a 64 |
Arena Corinthians | 47.605 |
89 |
1068 |
12 |
Itaquerão | 45.000 |
82 |
984 |
12 |
Arena da Baixada | 42.372 |
76 |
912 |
9 a 16 |
Arena Fonte Nova | 47.907 |
71 |
994 |
14 |
Beira Rio | 50.128 |
70 |
1120 |
16 |
Castelão | 63.903 |
52 |
2100 |
16 a 32 |
ARENA MRV | 41.000 |
36 |
900 |
25 |
O faturamento anual esperado divulgado pelo Atlético-MG com a nova arena aparentemente está baixo (R$56M/ano). Um destes motivos pode ser o numero baixo de camarotes. O clube ainda tem tempo para reestudar sua estratégia de camarotes sem onerar a obra. Diminuir a capacidade de cada um para 8, 10 ou até 12 pessoas ampliaria sua chance de venda. O ideal para este tipo de projeto seria ampliar para até 80 ou 90 camarotes aproveitando no mesmo andar, áreas disponíveis na arena. Um dos pontos mais importantes divulgados é a venda de cadeiras cativas. O clube deseja faturar R$100 milhões de reais com a venda de quase 5.000 delas para completar o orçamento da arena. A venda de cativas vai prejudicar a venda dos camarotes, pois se perde parte do público com alto poder aquisitivo para sua aquisição. Eles comprarão as cadeiras cativas como preferência. O ideal seria não vendê-las ou vender muito pouco delas, faturando com a venda destes lugares por jogo. Segundo divulgado pelo clube, cada uma delas sairia em torno de R$25 mil. O Minas Arena tentou vender camarotes, após sua inauguração antes da copa, ao custo de quase R$14 mil/ano por pessoa em 2014, depois teve que rever sua política de preços. Já o Allianz Parque vendeu todos os 183 camarotes, depois de pronto, em pouco mais de 2 meses ao custo de incríveis R$16 a 24 mil por ano por pessoa. Hoje este valor deve ser ainda maior.
Simulação de Ampliação do
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Custo do Camarote |
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Estádio | Por Ano (12Pessoas) |
Mensalidade | Mensalidade Por Pessoa |
Arena Corinthians |
R$199mil | R$ 16,6 mil | R$1,3 mil |
Allianz Parque |
R$288mil | R$ 24 mil | R$ 2 mil |
Arena MRV (Promocional Valor Mínimo Sugerido) |
R$120mil |
R$10 mil | R$ 833 |
Número Ideal de camarotes: 90 |
Receita Mínima Esperada por ano (1200 assentos 12 lugares cada) |
R$12 Milhões
|
O alto volume de empresas, o poder aquisito e a fácil localização desta Arena favoreceu esta estratégia colocando o clube na liderança de receitas entre as arenas brasileiras. O Corinthians vende seu camarote de 12 pessoas hoje por cerca de R$200 mil por ano. A futura Arena MRV tem ótima localização e fácil acesso. O Atlético poderia lançar a venda de camarotes com valores promocionais ao custo de R$10 mil reais/ano por pessoa (sim, esse seria um valor promocional) com contrato com contratos de até 4 anos, ou seja, um camarote pra 12 pessoas custaria R$120 mil por ano c/direito a 2 vagas no estacionamento. Se o Atlético ampliasse sua oferta para 90 camarotes, usando áreas livres disponíveis (segundo mostrado na planta que foi divulgada) pelo menos para 1.200 lugares com capacidade média de 12 lugares, o clube teria mais facilidade para vendê-los podendo arrecadar cerca de R$12 milhões/ano ou quase R$48 milhões em 4(quatro) anos e utilizá-los no pagamento do estádio. Isso diminuiria a necessidade da venda de cativas. Muitos podem criticar a idéia e comentar sobre a dificuldade na venda dos camarotes em épocas de crise. Alguns vão dizer que isso não vende. Estão errados. Quem pode pagar quer conforto. Mas entrar com valores promocionais junto de outros benefícios (estacionamento e catering), pode ajudar o clube a conseguir 100% das vendas.
Se o Atlético ampliasse sua oferta para 90 camarotes, usando áreas livres disponíveis (segundo mostrado na planta que foi divulgada) pelo menos para 1.200 lugares com capacidade média de 12 lugares, o clube teria mais facilidade para vendê-los podendo arrecadar cerca de R$12 milhões/ano ou quase R$48 milhões em 4(quatro) anos
Em vez de vender quase 5.000 cativas o clube poderia pensar em vender no máximo 1.000 mil delas arrecadando quase R$25 Milhões, podendo transformar as cadeiras restantes em assentos VIP, ampliando em muito a receita do clube por jogo. O restante dos R$25 milhões valores poderiam ser cobertos facilmente por patrocínios Naming Rights setoriais, venda de camarotes por evento e cadeiras especiais em grandes eventos e etc. Dessa maneira o clube ampliaria muito sua receita, evitando perder renda ou capacidade da arena. Talvez no futuro, o BMG perceba que os Naming Rights Setoriais são um ótimo negócio, aliado a outras estratégias de marketing que falarei aqui em outros artigos e perceba isso pode ser melhor para ele e para o Clube. Outro detalhe que poderia ajudar na estratégia de vendas dos camarotes atleticanos é a possibilidade de utilizá-los como escritório. A região é carente de salas comerciais e o local pode sim ter um pequeno movimento comercial fora dos jogos de futebol. Os torcedores que alugaram alguns camarotes especiais para jogos poderiam ter o direito a utilizá-lo em horário comercial até para reuniões comerciais. O Grêmio pensou nesta estratégia desde o início. Estes locais referenciados na planta poderiam atender a esta demanda. Mas este será um assunto para outro artigo.
Estacionamentos
As vagas de estacionamento propostas são boas para este tamanho de estádio e investimento feito. É importante lembrar que o clube ainda tem várias áreas livres descobertas em torno do estádio para oferta de novas vagas como é feito até em estádios novos como da Juventus, na Itália, onde a maioria das vagas é descoberta.
Vagas de Estacionamento | |
Estádio | Vagas |
Minas Arena | 2925 |
Allianz Parque | 2900 |
Arena Corinthians | 1900 |
Maracanã | 556 |
Arena do Grêmio | 2600 |
Beira Rio | 5000 |
ARENA MRV | 2600 |
Resumo: Análise do Projeto Arquitetônico |
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Pontos Positivos |
Avaliação |
Capacidade |
Perfeita |
Vagas de Estacionamento |
Muito boa |
Pontos de Atenção |
Avaliação |
Número de |
Diminuir a capacidade de cada |
Venda de |
Diminuir venda para 1.000 |
Fonte:
Por Márdel Cardoso é gerente de projetos, diretor da Arenaplan, pioneira na tecnologia Cashless para estádios e soluções de ponta para automação comercial. É gerente de projetos. Tem experiência na realização de vários estudos de viabilidade para arenas. Bacharel em C.Computação-PUC-MG, MIT-Master Information Tecnology-FIAP-SP, Marketing Esportivo-Uniara-SP e Gestão de Arenas Multiuso- Trevisan-SP. Autor de 2 livros. Foi professor durante os últimos 17 anos na Fasp, Fiap e Uninove em São Paulo em Gestão de Projetos e Empreendedorismo. Leciona hoje cursos de Gestão de Projetos PMI e Gestão de Projetos Preparatório de Estádios para Vistoria. Mentor do primeiro e maior evento de gestão de estádios e arenas no Brasil: o Fórum de Gestão de Estádios e Arenas.