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Métodos de partilha das receitas TV nas principais ligas Europeias

Métodos de partilha das receitas TV nas principais ligas Europeias

Uma das principais decisões que afetam neste momento o futebol em Portugal prende-se com o modelo de negociação dos direitos de transmissão televisivos dos clubes.

Atualmente, existem duas formas fundamentais de negociação: o modelo coletivo (normalmente negociado e explorado por uma entidade reguladora, geralmente a Liga de Futebol Profissional do país em questão, e as operadoras televisivas) e o modelo individual em que cada clube é responsável pela negociação dos seus próprios direitos (modelo que prevalece em Portugal). O modelo coletivo além de ser utilizado em alguns dos principais campeonatos europeus (Inglaterra, Alemanha, França e Itália) é também adotado em competições como a UEFAChampions League e a UEFA Europa League.

A diferença fundamental entre estes dois modelos é relativamente simples: enquanto que o modelo individual baseia-se na capacidade negocial de cada clube e, consequentemente, permite aos mais poderosos gerarem ganhos muito superiores aos restantes, o modelo coletivo aumenta a equidade entre os clubes e limita a vantagem dos que apresentam um maior poder negocial. Por outro lado, o modelo coletivo permite aos clubes e à entidade reguladora do país, apresentarem uma posição mais forte e de monopólio junto das operadoras televisivas negociando o seu produto como um só.

Neste sentido, as críticas apontadas ao modelo individual devem-se ao aumento do desequilíbrio entre clubes não proporcionando aos de menor dimensão a possibilidade de lutarem por objetivos mais ambiciosos e estarem mais propensos a competir com os clubes mais fortes.

O modelo coletivo funciona como um modelo de redistribuição de receitas aumentando a qualidade e competitividade da modalidade em si. Por outro lado, o grande obstáculo deste modelo prende-se com a aversão por parte dos clubes mais poderosos à adoção do mesmo uma vez que receiam não conseguirem manter/aumentar as suas receitas televisivas. Consideram-no também injusto dado a sua superior base de adeptos e valor da marca. Deste modo, neste modelo, os mecanismos de redistribuição devem ser cuidadosamente estudados e definidos de modo a manter o apoio dos maiores clubes e o equilíbrio dentro da liga de futebol. É também importante referir que, segundo o Deloitte Football Money League 2011 (relativo à época 2009/2010), 12 dos 20 clubes que geraram as maiores receitas televisivas seguiam o modelo coletivo. Contudo, os 5 primeiros seguiam o modelo individual.

INGLATERRA

A época passada, 2010/2011, foi o primeiro ano do novo contrato de exploração dos direitos televisivos da Premier League negociados coletivamente (1.165 milhões de Euros por época) permitindo um encaixe por parte dos clubes superior ao da época anterior. Relativamente à forma de distribuição das receitas, o modelo adotado é o seguinte: 50% são divididas em partes iguais por todos os clubes, 25% com base no desempenho das equipas (o primeiro classificado recebe 20 vezes o valor do último), e 25% são distribuídas consoante as audiências televisivas e o número de jogos transmitidos na TV (existe um limite mínimo de dez jogos). As receitas internacionais são também repartidas equitativamente por todos os clubes. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 1,54 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

ALEMANHA

O contrato atual na liga alemã proporciona aos clubes um total de 520 milhões de Euros por época e termina em 2012/2013. Na Alemanha, as receitas televisivas são distribuídas coletivamente e negociadas pela Liga Alemã mas os clubes que participam nas competições da UEFA podem negociar esta componente individualmente ao contrário do que sucede em Inglaterra. Deste modo, dado que a Alemanha não consegue atingir na globalidade valores tão elevados como outros países, os clubes estabelecidos mundialmente como o Bayern de Munique, reclamam uma fatia maior do bolo do que aquela que recebem atualmente. Alegam também que por este motivo não conseguem representar bem o seu país internacionalmente por não conseguirem reter/atrair os melhores jogadores. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 2 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

FRANÇA

O contrato atual engloba um montante de 517 milhões de Euros por época e termina em 2011/2012. Relativamente à forma de distribuição das receitas, o método adotado é semelhante ao de Inglaterra embora as percentagens sejam diferentes: 50% repartidas igualmente, 30% com base no desempenho (25% face ao desempenho na última época e 5% com base na média das classificações nas últimas cinco épocas) e 20% com base nas audiências. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 3,51 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

ITÁLIA

Recentemente, foi adotado o modelo de negociação coletiva em Itália para as épocas 2010/2011 e 2011/2012 num valor total a rondar os 900 milhões de Euros por época, representando um significativo aumento das receitas globais. Este facto permitiu a alguns clubes aumentarem as suas receitas televisivas (ex: AC MIlan, Napoli). O caso do Napolié evidente na medida em que as suas receitas televisivas aumentaram 47% na última época. No entanto, outros clubes sofreram um decréscimo das suas receitas devido à adoção deste novo modelo (ex: Internazionale eJuventus). Esta situação assume ainda uma maior importância dado que, neste país, as receitas televisivas representam, na maioria dos casos, a principal fonte de receita.

Relativamente ao modo de distribuição das receitas, a forma adotada é a seguinte: 40% do total é repartido em partes iguais pelos 20 clubes da Serie A, 30% é repartido em função do desempenho (10% pela historial de resultados, 15% com base nas últimas 5 épocas e 5% face à última época), e 30% em função das audiências televisivas (25% face ao número de adeptos e 5% com base no número de habitantes da cidade do clube). Em 2010/2011, observou-se um rácio de 10 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

ESPANHA

Na Espanha, tal como em Portugal, os clubes continuam a seguir o modelo de negociação individual. Neste sentido, o Real Madrid e o Barcelona atraem a maior parte das receitas televisivas tendo apresentado 144 milhões de Euros e 133 milhões de Euros, respetivamente, em 2010/2011 (retirando as receitas provenientes da UEFA). Os seus contratos foram celebrados com a Mediapro até 2013/2014 e 2014/2015, respetivamente. Em termos globais, o Real Madrid e o Barcelona arrecadam anualmente cerca de 47% das receitas televisivas totais dos clubes da primeira liga espanhola, revelando uma enorme disparidade. Simultaneamente, clubes como o Atlético de Madrid e o Valenciaapenas arrecadam 30% das receitas individuais do Real Madrid. Em 2010/2011, observou-se um rácio de 12,5 entre as receitas televisivas do primeiro e últimos classificados.

Por Nuno Bolas, Futebol Finance 23/04/2012
http://www.futebolfinance.com/metodos-de-partilha-das-receitas-tv-nas-principais-ligas-europeias

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Deloitte Football Money League 2012 – Uma análise às receitas dos clubes de Futebol da Europa.

Deloitte Football Money League 2012

Foi ontem lançado o Deloitte Money League 2012, uma análise da consultora Deloitte às receitas dos clubes de futebol. E é o Real Madrid a liderar a tabela com receitas a rondar os 480M€, seguido do Barcelona com 450M€ de receitas, e o último lugar do pódio é do Manchester United com 367M€ de receitas. Neste ranking não houve grandes alterações face ao ano anterior com os primeiros 7 lugares da tabela a não sofrerem alterações.

O estudo salienta ainda que vantagem que o Real Madrid e o Barcelona detêm sobre os seus parceiros europeus indica que mesmo que houvesse uma distribuição mais igualitária das receitas de transmissão televisivas, não afectaria o domínio destes dois clubes no topo dos clubes com mais receitas. É também salientada a importância da participação dos clubes nas competições europeias, que se torna crucialmente importante para conquistar um lugar no top 20, e mesmo influencia a sua posição nesse top.

Deloitte Football Money League 2012

Clubes Bilheteira Direitos TV Comércio Receita Total
1 Real Madrid 123,600,000 € 183,500,000 € 172,400,000 € 479,500,000 €
2 Barcelona 110,700,000 € 183,700,000 € 156,300,000 € 450,700,000 €
3 Manchester United 120,300.000 € 132,200,000 € 114,500,000 € 367,000,000 €
4 Bayer Munich 71,900.000 € 71,800,000 € 177,700,000 € 321,400,000 €
5 Arsenal 103,200.000 € 96,700,000 € 51,200,000 € 251,100,000 €
6 Chelsea 74,700.000 € 112,300,000 € 62,800,000 € 249,800,000 €
7 AC Milan 35,600.000 € 107,700,000 € 91,800,000 € 235,100,000 €
8 Internazionale 32,900.000 € 124,400,000 € 54,100,000 € 211,400,000 €
9 Liverpool 45,300.000 € 72,300,000 € 85,700,000 € 203,300,000 €
10 Schalke 04 37,200.000 € 74,300,000 € 90,900,000 € 202,400,000 €
11 Tottenham Hotspur 47,900.000 € 92,000,000 € 41,100,000 € 181,000,000 €
12 Manchester City 29,500.000 € 76,100,000 € 64,000,000 € 169,600,000 €
13 Juventus 11,600.000 € 88,700,000 € 53,600,000 € 153,900,000 €
14 Olympique de Marseille 25,600.000 € 78,200,000 € 46,600,000 € 150,400,000 €
15 AS Roma 17,600.000 € 91,100,000 € 34,800,000 € 143,500,000 €
16 Borussia Dortmund 27,700.000 € 32,100,000 € 78,700,000 € 138,500,000 €
17 Olympique Lyonnais 19.000.000 € 69,600,000 € 44,200,000 € 132,800,000 €
18 Hamburger SV 41,800.000 € 26,700,000 € 60,300,000 € 128,800,000 €
19 Valencia 27,500.000 € 66,400,000 € 22,900,000 € 116,800,000 €
20 Napoli 22.000.000 € 58,000,000 € 34,900,000 € 114,900,000 €
21 Benfica 102,500,000 €
22 Atlético de Madrid 99,900,000 €
23 Werden Bremen 99,700,000 €
24 Aston Villa 99,300,000 €
25 Newcastle United 98,000,000 €
26 Ajax 97,100,000 €
27 Stuttgart 95,500,000 €
28 Everton 90,800,000 €
29 West Ham United 89,100,000 €
30 Sunderland 87,900,000 €

Destaque para o Nápoles que aparece na 20º posição da tabela, beneficiando do novo acordo de direitos televisivos da Seria A Italiana, duplicando este tipo de receita em relação ao ano anterior para os 58 milhões de Euros. De salientar também que apenas Benfica e Ajax não fazem parte das 5 maiores ligas Europeias, tendo o clube Italiano (Nápoles) impedido o Benfica de ser o único nos 20 primeiros do ranking.

NOTAS 
(1) O relatório demonstra as 30 equipas do futebol mundial que maiores receitas geraram na época de 2010.11 (2) As receitas excluem transferências de jogadores e impostos. (3) Actividades extra-futebol e transacções de capital foram igualmente excluídas das receitas por razões comerciais e contabilísticas, devido às diversas formas de registar uma mesma operação. (4) As receitas dos clubes são divididas em 3 categorias; (a) Bilheteira (todas as receitas de bilheteira, lugares anuais e quotização), (b) Direitos TV (inclui a venda de direitos TV de todos os jogos nacionais e internacionais), (c) Comércio (inclui todos os patrocínios, merchandising e outras pequenas receitas).

Por  HUGO EMANUEL FERNANDES
Futebol Finance 10/02/2012
http://www.futebolfinance.com/deloitte-football-money-league-2012


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Despesa do Departamento de Futebol dos Clubes Brasileiros em 2011

Despesa do Departamento de Futebol dos Clubes Brasileiros em 2011

A Consultoria BDO RSC, através de sua secção de Esporte Total, revelou recentemente os gastos com o Departamento de Futebol dos 20 clubes brasileiros que mais arrecadaram em 2011. Esse grupo seleto do Futebol Brasileiro chegou à marca de R$ 1.55 bilhões em despesas com seu departamento mais importante. Esse valor representa um aumento de 17,6% quando comparado aos R$ 1,31 bilhão de 2010. Quando se olha um pouco mais para trás, no ano de 2007, esses gastos foram de R$ 869 milhões, o que significa um aumento de 78% nos últimos cinco anos.

Custo do Futebol Perante Receita Total

Uma relação importante de se observar é o quanto as despesas com o Departamento de Futebol representam das Receitas Operacionais dos clubes, uma medida de eficiência da gestão das instituições. Como as despesas com o Departamento de Futebol desses clubes tem crescido mais do que suas receitas operacionais, esse índice vem aumentando desde 2007, porém registrou um recuo de 78,3% em 2010 para 72,4% em 2011. As receitas de 2011 foram parcialmente impactadas pelo novo contrato de transmissão dos jogos da Serie A do Campeonato Brasileiro que já foi em parte antecipado nos resultados desse ano e cresceram 27% em R$ (reais), como pode ser visto no artigo “Receitas dos Clubes Brasileiros em 2011”. Além disso, as despesas não acompanharam esse aumento em 2011 e os Clubes não gastaram todo o incremento de receita com seus Departamentos de Futebol.


Fonte: BDO
Em 2011 os Clubes do futebol brasileiro apresentaram um incremento nos gastos com seus Departamentos de Futebol que superou os R$ 230 milhões, de longe o maior incremento anual dos últimos cinco anos, sendo a maior parte desses gastos com salários. Isso mostra que os Clubes já começaram a praticar outro nível de gastos no que diz respeito à remuneração de seus atletas, ou seja, o incremento da receita vindo de um novo contrato de transmissão de jogos que mudou o patamar das receitas dos Clubes já está impactando o nível de preços do mercado futebolístico brasileiro. Isso mesmo antes do contrato supracitado entrar em vigor, o que mostra a antecipação desse fluxo futuro por parte dos Clubes.

Despesas do Departamento de Futebol dos Clubes Brasileiros em 2011

Clube UF Custo Futebol 2011 Custo Futebol 2010 Var. % 2010-11 Custo Futebol 2007 Var. % Ultimos 5 Anos 2007-11
Corinthians SP 197.386 153.399 28,7% 114.759 72,0%
Internacional RS 147.500 136.507 8,1% 107.664 37,0%
São Paulo SP 145.883 132.083 10,4% 110.517 32,0%
Santos SP 142.421 87.150 63,4% 61.388 132,0%
Palmeiras SP 115.856 151.900 -23,7% 62.288 86,0%
Flamengo RJ 108.616 69.273 56,8% 55.416 96,0%
Grêmio RS 96.271 93.693 2,8% 54.085 78,0%
Atlético MG 91.317 70.408 29,7% 43.278 111,0%
Cruzeiro MG 88.831 77.250 15,0% 51.052 74,0%
Vasco da Gama RJ 78.547 69.331 13,3% 37.582 109,0%
Fluminense RJ 64.203 54.823 17,1% 35.471 81,0%
Botafogo RJ 59.626 42.323 40,9% 25.924 130,0%
Coritiba PR 50.270 31.488 59,6% 11.477 338,0%
Figueirense SC 35.818 18.350 95,2% 14.270 151,0%
Goiás GO 26.828 29.799 -10,0% 24.389 10,0%
Vitória BA 23.441 23.116 1,4% 12.021 95,0%
Portuguesa SP 19.947 22.036 -9,5% 13.298 50,0%
Ponte Preta SP 19.850 22.017 -9,8% 10.285 93,0%
São Caetano Ltda SP 18.651 14.364 29,8% 18.285 2,0%
GR Barueri(Prudente) SP 14.349 15.202 -5,6% 5.035 185,0%
TOTAL 1.545.611 1.314.512 17,6% 868.487 78,0%

Valores em R$ mil
Fonte: BDO

Momento de Euforia e Antecipação de Recursos

Os clubes europeus, historicamente os principais clientes do futebol brasileiro em termos de transferência de atletas, passam por um momento de contenção de gastos, tendo em vista a situação econômica do velho continente que tem impactado as receitas daquela região. Já é possível ver um movimento inverso tomando força, onde os atletas brasileiros passam mais tempo atuando em campos nacionais do que indo jogar no exterior precocemente, além de jogadores consagrados voltando a atuar em solo brasileiro antes do que se via há alguns anos atrás. Quando o valor “cheio” das receitas de transmissão começar a entrar nas contas dos Clubes, esse movimento pode se tornar regra e a indústria esportiva verificar uma mudança em como o mercado funciona. Esse é um cenário que pode se tornar perverso para as principais instituições do futebol brasileiro se elas não souberem controlar seus gastos.
Um exemplo que vem se materializando no presente é o contrato do C. R. Flamengo com seu principal atleta, Ronaldinho Gaúcho: expectativas infladas com relação ao astro fizeram o Clube assinar um contato com remuneração mensal milionária que há alguns meses não vem sendo cumprido pelo contratante. Dentro de alguns anos outros clubes podem começar a demonstrar dificuldade de honrar seus compromissos firmados ao longo de 2011 única e exclusivamente por terem se comprometido a gastar em demasia quando o momento era de empolgação e não terem se preocupado com a gestão de caixa do Clube. Parcimônia em momentos de euforia não pode ser considerada um pessimismo exagerado e sim uma decisão estratégica para não encontrar problemas no futuro.

Por Futebol Finance, 19/06/2012
http://www.futebolfinance.com/despesa-do-departamento-de-futebol-dos-clubes-brasileiros-em-2011

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Especial finanças dos clubes: Mais ricos e mais riscos

Balanços mostram que clubes continuam batendo recordes de arrecadação, mas despesas crescem ainda mais rápido

Marcelo Damato
Publicada em 05/06/2012 às 07:00
São Paulo (SP)

Os clubes brasileiros continuam batendo recordes de arrecadação. Num país em que a economia evoluiu 2,7% em 2010, o faturamento dos 14 principais clubes do Brasil cresceu dez vezes mais rapidamente: 27%. A arrecadação operacional desse grupo de elite formado pelos maiores clubes de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo bateu nos R$ 2 bilhões, segundo análise da empresa de auditoria Mazars.

Em 2008, apenas cinco clubes haviam arrecadado mais de R$ 100 milhões. Em 2009, já eram sete. O Santos em 2010 e o Vasco em 2011 se juntaram a esse grupo. E o Atlético-MG deve chegar lá em 2012. Já há dois clubes que passaram a barreira dos R$ 200 milhões, e neste ano, o Corinthians deve passar a dos R$ 300 milhões.

Apesar de haver uma tendência geral, os clubes evoluíram de modos muito diferentes. Nos últimos anos, o Santos é o clube que mais cresceu em receitas operacionais. Em 2008, o Peixe estava em nono lugar, R$ 1 milhão a menos do que o Fluminense. Meros três anos depois, chegou ao terceiro posto, com mais de R$ 108 milhões de vantagem sobre o Tricolor carioca, que é 11º agora.

O Corinthians também cresceu muito. Foi do quinto para o primeiro lugar, crescendo mais de R$ 100 milhões a mais do que o rival São Paulo no período.

Outra novidade é a ultrapassagem feita pelos clubes do Paraná, Atlético e Coritiba, sobre o Botafogo. O Alvinegro carioca, agora, é o 14º clube do Brasil, pelo menos em dinheiro. Quando se mede a velocidade do crescimento das receitas, a evolução das dívidas, e os encargos financeiros, pode-se projetar que a diferença ao menos no curto prazo deve aumentar. Todavia, deve-se destacar que parte das receitas do clube estão colocadas na Companhia Botafogo, criada na gestão Bebeto de Freitas.

Se as receitas cresceram as despesas subiram ainda mais. Na soma desde 2008, somente três clubes, Corinthians, São Paulo e Flamengo conseguiram mais dinheiro do que gastaram.

Situação deve piorar

O auditor Carlos Aragaki vê maiores motivos para preocupação do que para comemorar na situação econômica dos clubes.

Segundo Aragaki, os clubes anularam o aumento de receitas verificado em 2011 com uma subida de despesas ainda maior.

Para piorar, para os próximos anos, o cenário não anima.

O maior contrato que os clubes possuem, o dos direitos de TV do Brasileiro, está firmado até 2015.

A receita com venda de jogadores tampouco promete muito, porém grande medida pela crise que atinge a Europa, onde estão localizados os clubes mais ricos do mundo. Além disso, a produção de atletas de preço excepcional, como Neymar e Paulo Henrique Ganso, também é excepcional.

Além disso, até 2013, as rendas de bilheterias sofrerão impacto do fato de que os estádios da Copa ainda não estarão prontos.

Balanços são diferentes

Uma das dificuldades de avaliar a situação financeira dos clubes é que cada um utiliza seu próprio critério diferente para fazer seus balanços. Em 2004, foi baixada uma portaria estabelecendo parâmetros, que são insuficientes. Por exemplo, o Flamengo neste ano, colocou zero como provisão de contingência.

Há alguns casos em que a mudança de governo no clube provoca um “salto“ nas contas. Em 2008, Roberto Dinamite assumiu a presidência do Vasco e mandou refazer o balanço, e a dívida do clube deu um salto de R$ 160 milhões.

Em 2010, a direção do Palmeiras registrou uma queda de patrimônio de R$ 30 milhões porque o clube estava em obras e isso foi registrado como prejuízo.

Neste ano, a diretoria do Botafogo atualizou a dívida com a Receita Federal, fazendo seu resultado passar dos R$ 155 milhões negativos.

Endividamento dos clubes faz pagamento de juros crescer a jato

Os principais clubes brasileiros gastaram mais do que um estádio de Copa (R$ 550 milhões) apenas em juros bancários nos últimos quatro anos e encargos de dívidas fiscais. As dívidas bancárias crescem e os juros estão corroendo sua capacidade de investimento.

Em 2011, a conta financeira respondeu por mais da metade do déficit global dos 14 maiores clubes do Brasil. Sem incluir o pagamento de juros, os clubes gastaram R$ 144 milhões a mais do que arrecadaram. O gasto com juros foi de R$ 185 milhões.

O Corinthians foi em 2011 o clube que mais pagou juros no país. Despendeu expressivos R$ 36,1 milhões, a mais alta soma paga por um clube brasileiro numa temporada desde que a publicação de balanços passou a ser obrigatória em 2002. Bateu o recorde de R$ 33,6 milhões, pagos pelo Palmeiras em 2010.

Se foi o maior pagador em 2011, o Corinthians fica atrás do próprio Palmeiras (R$ 84,6 milhões) e do Flamengo (R$ 104,7 milhões) no acumulado dos últimos quatro anos.

– Os clubes estão pegando muito empréstimo em banco. Fazem isso para equilibrar o caixa, mas depois isso acaba saindo muito caro – afirma o ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Belluzzo, que renegociou grande parte da dívida do clube em sua gestão.

Em três anos, de 2008 a 2011, a conta financeira dos clubes de futebol cresceu 95%, numa taxa média de 25% ao ano. Nesse ritmo, os clubes estarão pagando mais de R$ 1 bilhão (dois estádios) de juros em 2014.

A exceção nesse rebanho de ovelhas desgarradas é o Atlético-PR. Em 2011, obteve uma receita financeira de R$ 1,7 milhão, já descontado o pagamento de juros. Do ponto de vista esportivo, não foi de grande ajuda, já que o Furacão foi rebaixado para a Série B.

Conheça como foram analisados os balanços

A publicação pelo LANCENET! da análise da Mazars é a sequência do trabalho iniciado em 2003, com a Casual Auditores, um ano depois de baixada a lei que obrigou os clubes a publicarem balanços.

Foram consideradas como operacionais todas as receitas e despesas apresentadas nos balanços, exceto as de caráter financeiro (nem todos os clubes discriminaram despesas e receitas financeiras, apresentando só o resultado).

Desde a promulgação da lei 11.638/2007, aplicável para todos os balanços, não existem despesas não-operacionais.

O fundador da Casual e hoje sócio da Mazars, Carlos Aragaki, e o time de especialistas em contabilidade e auditoria de clubes de futebol (ex-Parker Randall) uniram-se à Mazars em setembro de 2011.

Aragaki, trabalha na área desde 1998, quando foi contratado pela Hicks Muse, parceira do Corinthians. Aragaki também foi membro do grupo de estudos do Conselho Federal de Contabilidade que criou a resolução 1005/2004, que criou parâmetros para contabilidade de entidades esportivas.

A Mazars é a sexta maior empresa de auditoria no Brasil, segundo a revista britânica “International Accounting Bulletin”.

Leia mais no LANCENET! http://www.lancenet.com.br/minuto/Especial-financas-clubes-ricos-risco_0_712728923.html#ixzz21fRtBn3t
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